Skip to main content

Experiência Profissional

Maturidade e Envelhecimento

Mais recentemente, a partir de 2004, tenho buscado me aprimorar em relação aos conhecimentos sobre a maturidade e o envelhecimento. Aqui você encontrará textos com embasamento na Gerontologia e na Teoria Social Cognitiva, desenvolvida por Bandura (1993) e também um pouco de escritos pessoais, como o texto: Fazendo 60 anos.

Boa leitura!

Aulas e Palestras

Tenho desenvolvido aulas, palestras e workshops com foco em resiliência e envelhecimento, enfrentamento de estressores na velhice e no trabalho, emoções, relações de cuidado, desafios para o desenvolvimento feminino e masculino, além de outros temas relativos à gerontologia como bem-estar subjetivo, satisfação com a vida e demências. As aulas tem sido ministradas no Curso de Pós-Graduação de Gerontologia, Enfermagem (FCM- Unicamp), Extecamp (Unicamp)- Curso: Práticas Multidisciplinares de Atendimento ao Idoso, SESC – Programa Gerontologia e Debate, Prefeitura Municipal de Paulínia (Programa de preparação para a aposentadoria), Programa Saúde Toda Vida – Unimed Campinas.

O que querem os Profissionais Veteranos?

A idade simbólica da maturidade é representada pelos 40 anos. No Brasil, 35% da população têm 40 anos ou mais e representam uma importante parcela de trabalhadores. A forma como os profissionais mais velhos estão atuando no mercado de trabalho – bem como a troca de aprendizado e experiências com as novas gerações, tem feito as empresas adotarem novas práticas de gestão de pessoas, mesmo que timidamente. [VEJA MAIS]

Maturidade e Envelhecimento no Trabalho

Como lidar com o estresse e a desmotivação profissional na vida adulta? Como as organizações podem valorizar a experiência dos profissionais veteranos para mantê-los engajados com o trabalho? [VEJA MAIS]

Fazendo 60 anos

Autora: Arlete Portella Fontes

Amanhã, segundo a legislação brasileira, passo a fazer parte desse contingente de pessoas chamados de idosos, cujas estatísticas não cansam de denunciar crescimento e demandas de cuidado, a cada ano que passa.

Num olhar ampliado, aos 60 sonha-se com a maturidade, com maior leveza, com pressões não tão pronunciadas, com viagens, com descanso, com ser dona do próprio nariz, quiça maior liberdade de escolha, com poder ser você mesma, viver os amores conquistados, ou quem sabe o amor sempre desejado, de forma ainda cálida e honesta.

Olhando de perto, vê-se rugas que não existiam, quilos sobressalentes, dores nas costas, um certo cansaço, amigos e familiares que adoecem ou que partem. Trata-se de um olhar que se altera, não somente pela miopia ou pelo astigmatismo. Ambos incomodam, mas, também ficam familiares, assim como familiar são as rodas de amigos, onde a conversa, inevitavelmente, vai oscilar entre doenças, dores, pais que requerem cuidados, outras vezes, mortes de pessoas queridas, quiça uma nova viagem ou curso que se ambiciona dar início.

Também quando o olhar arrisca olhar para dentro e sofrer um pouco, vê-se a si próprio: sonhos não realizados, amores não experimentados, coragem não exercida e ainda um jogo de luz e sombra, onde a sombra ocupa o lugar de figura, onde os defeitos são potencializados, tornando-se irreconhecíveis, fortes e imutáveis como nunca ou como sempre.

Muito são os aprendizados. Aprende-se a olhar com distância os grandes entusiasmos, os desejos irrestritos de crescimento, a olhar com leveza o grande amor, com simplicidade o que ainda se quer fazer, com compaixão aqueles que não se entregam ao amor, com resolução a necessidade de viver com integridade esse tempo que avança. Também se aprende que tudo aquilo que significou porto seguro, aconchego, certeza, qualidades transmitidas pelo convívio familiar, pode ficar efêmero, até mesmo bizarro, diante da impotência vivida por aqueles que ao nosso redor demenciam ou que cronicamente morrem um pouco a cada dia, invertendo conosco o papel de cuidado.

Chama-se de experiência a essa capacidade que se vai adquirindo em meio às repetidas vezes em que se ousa avançar ou recuar. Adquire-se experiência quando se coloca na balança o tempo vivido, somam-se os acertos, subtraem-se os erros e multiplica-se exponencialmente a capacidade de tolerar. A tolerância é um grande ganho que a maturidade pode trazer. Tolerar o erro, a impotência, a falta de lucidez, a arrogância, a prepotência. Longa é a lista a ser aprendida.

A experiência nos desperta para o reconhecimento dos ganhos e perdas. Dos ganhos temos que falar com lucidez e com certa delicadeza, para que não nos tornem cheios de orgulho e, então, insensíveis ao sofrimento. Este ao operar aprendizados o faz com a precisão de um cirurgião e, faz com que se aprenda na carne as necessidades da alma.

Na minha juventude sempre fui encantada pelo amor e por suas manifestações. Vivi algumas paixões, quase todas intensas, profundas e vivificantes. Gosto de recordá-las, agora com a devida distância de quem já as provou, às vezes como veneno, às vezes como remédio para as querelas da vida. Sem elas, a vida não teria sentido, sem elas, não me sentiria humana, nem tampouco, mulher.

Trabalhar foi e tem sido outra empreitada na vida. Apreciar o que se faz, fazê-lo com amor e fervor. Preencher os dias com diversos significados, fazer amigos, construir pontes, ajudar outros a buscar seus próprios sonhos. A vida sem trabalho ficaria infértil e estéril, flor sem água, amor não correspondido.

A idade, essa também é uma dádiva. Sempre gostei de celebrar os aniversários – da criança, do jovem, do adulto, do velho. Não importa, todas as idades têm sua importância e, por este motivo, não há que se ter vergonha de usar termos como “velho, velha, velhice”. São denominações de vida. Não há que se exaltá-las, nem tampouco, excluí-las. Nascer, crescer, florescer, amadurecer e morrer são etapas de vida.

Apesar de me sentir bastante otimista, creio que o envelhecer tem lá suas perdas e, não são pequenas, nem de pequena importância. Em especial, aquelas relativas à memória. Perde-se um lugar, um modo de sentir, ver, querer. Perde-se a história e com ela os sentidos que se forjou para a vida. Nossas memórias são o nosso mais precioso bem. Mas, aí também há algo para refletir. Quem sou eu que não minhas memórias? Minha alma é maior do que todas as lembranças, os fatos, as relações, os vínculos construídos ao longo do tempo? Ou ela diz respeito exatamente ao que não se pode contar, contrapor, construir ou desconstruir? Será que ela é mais do que sinto, percebo, aquilo com o que me preocupo? Nos processos demenciais, a história se perde e com ela os significados. Questões complexas como essa, são do âmbito da filosofia ou da religião. Talvez a dor do esquecer, seja mais daquele que observa do que da alma que abriga o esquecimento.

Os amigos são outra dádiva. Ora, suavizam nossas rugas, ora nos chamam a continuar, não desistir, muitas vezes nos fazendo rir, outras chorar. Os da infância e adolescência, quando ainda nos acompanham na velhice, compartilham conosco as mudanças pelas quais passamos.

Isso as torna mais leves, porque nos espelhamos um no outro e, mais facilmente, compreendemos que essa etapa faz parte de um processo anímico: estamos a serviço de uma jornada que pouco compreendemos, mas, que, inexorável e impositiva, portanto, requer nossa obediência e aceitação.

E há tantas outras coisas a dizer sobre o fazer 60 anos. Mas, uma delas, sem dúvida, requer atenção e um certo grau de benevolência. Trata-se dos aspectos sombrios que nos acompanham. Ou seja, aqueles que não reconhecemos em nós mesmos e, por esse motivo, os ocultamos do outro ou os vemos nele. Apesar dos anos e da experiência adquiridos, ainda a inveja, a vaidade, o orgulho, o mal humor e até a mentira, muitas vezes a nós mesmos, não deixam de nos visitar. E como pecados, são capitais, ou seja, têm assento e relevância em nossas vidas. Fugir deles não conseguimos. Lutar contra eles, é luta desigual, pois têm a força do que nunca morre, apenas suaviza. O jeito é admiti-los e, quando ficarem muito expoentes, exercitamos o perdão.

Há tantas outras coisas a dizer…, mas, é hora de continuar a vida. Há muito que se aprender.

Muito com o que se encantar! Muito a agradecer!

20-01- 16